<i>Bem prega frei Tomás</i>

Anabela Fino

A in­só­lita co­mu­nhão de pontos de vista entre duas or­ga­ni­za­ções que, pelos prin­cí­pios por que ale­ga­da­mente se regem, era su­posto es­tarem em campos opostos trouxe esta se­mana para a ri­balta o de­bate sobre as «me­lhores po­lí­ticas» para com­bater a re­cessão.

Sen­tados à mesma mesa, em Oslo, os di­ri­gentes do Fundo Mo­ne­tário In­ter­na­ci­onal (FMI – esse mesmo, o das fa­mi­ge­radas re­ceitas anti-so­ciais) e da Or­ga­ni­zação In­ter­na­ci­onal do Tra­balho (OIT) apre­sen­taram as con­clu­sões de um es­tudo con­junto sobre o es­tado a que isto chegou e deram con­se­lhos quanto ao ca­minho a se­guir.

Tendo cons­ta­tado que, em três anos, em nome da crise, já foram des­truídos 30 mi­lhões de postos de tra­balho, o di­rector-geral do FMI, Do­mi­nique Strauss-Kahn, não he­sita em re­co­nhecer que «esta prova de fogo» não se re­solve «com as ve­lhas re­ceitas» e que é pre­ciso, mais do que «uma re­toma ro­busta», que a re­toma crie em­prego.

«A questão não é apenas a de gerar cres­ci­mento mas sim de gerar cres­ci­mento de forma a que crie os mi­lhões de em­pregos de que ne­ces­si­tamos», disse Strauss-Kahn, su­bli­nhando que com mer­cado de tra­balho for­te­mente mar­cado pela pre­ca­ri­e­dade e com sa­lá­rios que não es­ti­mulam o con­sumo não ha­verá efec­tiva re­cu­pe­ração.

O FMI e a OIT – que coin­cidem na ava­li­ação das con­sequên­cias do de­sem­prego à es­cala mun­dial (210 mi­lhões, com sério risco de du­plicar a curto prazo), de­sig­na­da­mente uma re­dução da es­pe­rança média de vida – dizem mesmo que, a não serem adop­tadas «po­lí­ticas ade­quadas para fazer frente a esta tra­gédia, o custo eco­nó­mico e so­cial será tre­mendo, porque es­tamos a falar de uma ge­ração per­dida».

Belas pa­la­vras. O pro­blema é que tanto o FMI como a OIT de­fendem a ma­nu­tenção dos «planos an­ti­crise», pelo menos até ao final deste ano, a con­ti­nu­ação das po­lí­ticas mo­ne­tá­rias e a re­ti­rada dos apoios ex­tra­or­di­ná­rios aos de­sem­pre­gados a partir do pró­ximo ano. Se isto não é mais do mesmo, o que será? Po­diam re­co­nhecer que no sis­tema ca­pi­ta­lista que de­fendem não há so­lução para a tra­gédia. Mas isso seria ex­ces­sivo, evi­den­te­mente.



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